Ouço os estrondos do vulcão. Após cada erupção sangro pelos poros da terra, rompo as matas e cubro estradas de cinzas e névoa.
Trabalho na disrupção dos congelados padrões de percepção e faço os sentidos saltarem, voando para além do que foi discurso. Uma revolucionária reorganização do cotidiano.
Quente, evaporo. Condenso, chovo. Lavro inférteis terras em busca da essência quase ausente.
No casulo preparo as asas amarelas da borboleta. Tenho guardados vários e caprichados voos. Alimento-me da folha perene da árvore da vida e me preparo para colher o mesmo ar puro dos corpos ligeiros.
Minha disposição é forte, explícita profissão de poética. Talvez eu seja o exemplar único de um instante efêmero decorrente da inspiração. Removo ordenações, propicio a fala do sensível e a dança do despertar.
Sem ruminar metas, aspiro subtrair-me à causalidade. O chão corre devagar e não hesito entregar-me ao suave deslizar.
Sou o mistério.