A caminhada entre as águas novas
Nos domingos azuis eu me interrogo sobre coisas simples, respondidas apenas no transcurso de si próprias.
Observo a vida dos campos ceifados se realizando nos tocos: o que, do arvoredo, subsistiu. Emoções antagônicas mesclam-se às idéias e a imaginação fica relegada. Não concebo o que seria viável plantar ou como seria o pisar que garantiria a próxima caminhada entre as águas novas.
Estamos no outono e já passou a época das chuvas. Os ciclos de vida se sucedem como as estações e nosso movimento é em espiral: jamais voltaremos ao mesmo ponto.
Gosto de sentar à beira do fiapo de riacho nessas manhãs frias, tomada pelo sereno movimento das folhas do pinheiro. É a tranqüilidade do olhar uma evidência. Falsamente mentirosa, um lago possível no deserto real e metafórico.
Do mosteiro próximo, o monge nos visita sempre. “Sinto o cheiro do café”, diz. Senta-se ao meu lado, calado, aproveitando aquela brisa. Falo aos borbotões e ele me questiona: “o que você quer dizer, exatamente?”. Não sei responder. Meus pensamentos jorram, fonte incessante de palavras às quais nem sempre eu consigo dar sentido.
Almas como a minha estão sempre buscando transformações, inquietas e inconformadas com o estado das coisas. O que é desnecessário, pois tudo é impermanente, a mudança é constante.
Sonia Regina
[23.5.09]
[23.5.09]