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Além de si - Sonia Regina

Além de si

Sonia Regina


Tateia, à procura do que acende o telhado e dá luz à pedra entre as árvores. Com a família aprendera a ser uma carruagem de fogo que, entre abraços, dissolve sombras e cria similitudes entre o discurso e o sonho. Sabia que o efêmero, tornado natural na imaginação da vontade, é como água que verticaliza a sede.

O contentamento não atordoa a alegria e a festa do dia treze paira, estacionada no ar de impedimentos, imorredoura na cotação das crenças que resolvem mistérios com a mão que penteia e despenteia. Um afago que encontra o deslumbramento dos sentidos e ilumina os louros cabelos, candeia ansiada pela escuridão.

"A mítica está no sol que faz andar fora do jogo da lua fria, azul nos raios que incomodam a noite", pensa. "Caminhar indica a falta de lugar, o sair pela maresia de letras e números numa jornada carente de idioma que soletre abrigo".

Relembra o beija-flor - o sábio entre as aves – que vive de sorver a vida com sofreguidão e aproveita todo o néctar que lhe ofertam as flores. O tempo é curto, a vida é pequena para tanto abafamento: trata de estar menos com a boca aberta, qual passarinho no ninho.

Figuração onírica numa caligrafia amarelo-verde, o arco-íris atravessa as águas errantes, no ar rendeiras do desejo. Transforma a cena e meras ilustrações tornam-se imagens em trânsito para uma paisagem que dança, na semântica.

"Talvez devesse flutuar na magia das palavras que entra pela janela animando bosques de gestos detidos no quadro, talvez seja este um processo ainda indefinido do estar ausente das paredes em busca da passagem para o leito", cogita. E percebe que da Natureza Morta a maçã retorna, esvaziada de significados. Verde, brilhante, descolada da tela. Mais que uma idéia, é sabor: ácido.

 

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©2010 Sonia Regina