Amor. Essa é a palavra com a qual Núbia designa a mãe, de oitenta anos. De natureza simples e suave, é, não obstante, pessoa complexa. Carismática e adorável, não carece ser decifrada: é oferenda que faz de si mesma, ao mundo.
Sempre presente, jamais deixou de ser um esteio. Sem se furtar a um gesto ou palavra, a mãe de Núbia se expressa forte e ternamente: ora crepúsculo, ora alvorada, num movimento que é água. Não tem medo do fustigar do vento, mas se recolhe ante uma brisa que vacile emprestar-lhe o sopro.
Nunca seus voos são aleatórios. Têm direção e rumo certo. E se lhe custa desviá-los, ainda assim pode fazê-lo.
Não só contempla, busca também a ação. Ousa, e não gosta de necessitar. Envolve-se afetivamente e acredita que o afeto vale a pena. Crê que é o amor o que arde e mantém acesa a vida. Assim ensinou a Núbia e ao irmão. Mas advertiu-os, acerca desta: a vida não é uma prenda, há que merecê-la para usufruí-la.
Construtivista por natureza, essa doce senhora mostrou-lhes a alegria que se alcança com a convivência e o conhecimento, a paz que se instaura quando se “é” com todas as potencialidades do Ser, a autonomia que se conquista ao aprender a fazer. Despertou neles um olhar diferente, mais holístico, provocativo e reflexivo, permitindo-lhes percorrerem o caminho de desenvolvimento e crescimento que aponta para a construção de seres humanos mais completos, com uma formação mais abrangente e mais responsável com seu planeta.
De essência poética, convocava-os – e ainda o faz - a ver a cor azul-hortênsia do céu de inverno e o espelho nas águas plácidas; a sentir o aroma da terra molhada e da grama recém-cortada. No inverno enevoado da Gávea, chamava-os à janela dizendo:
- Vejam, parece que estamos na serra!
Compartilhava com eles seus prazeres e observações de um mundo que via com a alma, propiciando-lhes valorizar o material e o que vai além. Acolhia-os com doçura e como leoa feroz os protegia. Guerreira tenaz, não desistia ante um obstáculo.
Propiciou um ambiente familiar harmonioso, de construção e troca, arrebatamentos e doações, fé e esperança, deixando para trás o medo dos fantasmas que aprisionam.
Sonia Regina
04092011