Olhar em frente
Sonia Regina
O sol invade a barca que estala, quando o coração pisca. Escorrem as cores pelas mãos do artista, como um sangue derramado inutilmente, se tintas ou notícias pretendem acender flores. Há percepções que requerem mais para se desdobrarem abundantes como águas revolvendo leitos de rios. Em exaltação simples, sem intenção de delírio.
Os sentidos aspiram ao triunfo dos ossos sobre as pedras, da carne que rebenta e se reconstrói.
Pinceladas se depositam na tela por caminhos sem qualquer ordem. Pigmentos ignorando o acaso e detonando o branco, como letras rompendo o texto.
Não é o calor fortuito que ferve a água. Olhar em frente não é um acidente de percurso. Há efeitos conseguidos quando se soltam as amarras.