Descobria como nascia o suspiro
Sonia Regina
Gostava de ver como os que trabalhavam a terra enxugavam com o dorso da mão a testa, olhando fixamente além. Um horizonte por vir, que não seria o mesmo para todos. Pensou se era nesses momentos que sonhavam.
A tarde era oblíqua; constatara quando vira que, ao longe, no fundo do vale, já anoitecera e ali ainda havia sol. Bom sentir-se sua amiga.
Ainda desconhecia a indiferença. Quase tudo que a atingia, recebia com afeto e com espanto: desgostos e gostos em partes quase iguais. Quase, porque nem sabia quantos desgostos lhe tirariam o poder maravilhar-se por nunca ter visto um pôr-do-sol igual a outro: um gosto e tanto, imenso, beirando a eternidade!
Sabia desde muito cedo que em cada pessoa forte havia alguma inocência, um desconhecimento do que fosse mal, ou bem. Não que fossem puros, os homens das montanhas. Ou ingênuos. Mas o contato com a terra, o respeito pela ventania, chuvas e raios, o desejo do sol do amanhecer nas noites extremamente frias lhes ensinara a viver sem auto-indulgência. Expulsos dos reflexos do ego, podiam viver os dias realmente próprios sem o sentimento de propriedade. Sem arrependimentos ou culpas seguiam com suavidade as mutações da natureza e integravam-se ao curso do mundo.
Ela mesma... Quantas vezes seu coração se apertara, quantas vezes voara dentro do peito. Por vezes seus deslumbramentos lhe traziam alguma desordem, por vezes uma quietude como esta, agora, em que descobria como nascia o suspiro.
Sonia Regina
Gostava de ver como os que trabalhavam a terra enxugavam com o dorso da mão a testa, olhando fixamente além. Um horizonte por vir, que não seria o mesmo para todos. Pensou se era nesses momentos que sonhavam.
A tarde era oblíqua; constatara quando vira que, ao longe, no fundo do vale, já anoitecera e ali ainda havia sol. Bom sentir-se sua amiga.
Ainda desconhecia a indiferença. Quase tudo que a atingia, recebia com afeto e com espanto: desgostos e gostos em partes quase iguais. Quase, porque nem sabia quantos desgostos lhe tirariam o poder maravilhar-se por nunca ter visto um pôr-do-sol igual a outro: um gosto e tanto, imenso, beirando a eternidade!
Sabia desde muito cedo que em cada pessoa forte havia alguma inocência, um desconhecimento do que fosse mal, ou bem. Não que fossem puros, os homens das montanhas. Ou ingênuos. Mas o contato com a terra, o respeito pela ventania, chuvas e raios, o desejo do sol do amanhecer nas noites extremamente frias lhes ensinara a viver sem auto-indulgência. Expulsos dos reflexos do ego, podiam viver os dias realmente próprios sem o sentimento de propriedade. Sem arrependimentos ou culpas seguiam com suavidade as mutações da natureza e integravam-se ao curso do mundo.
Ela mesma... Quantas vezes seu coração se apertara, quantas vezes voara dentro do peito. Por vezes seus deslumbramentos lhe traziam alguma desordem, por vezes uma quietude como esta, agora, em que descobria como nascia o suspiro.